Manu Lafer

Músico e Compositor

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O compositor e médico Manu Lafer lança Re: como entrada do projeto do seu cancioneiro com a sua obra gravada. Esse projeto literomusical será batizado de Thesaurus e aborda mais de 20 anos de carreira e 20 discos individuais lançados. Estarão as partituras de suas músicas tal como foram compostas, com voz e violão, mesmo quando modificadas por outros intérpretes e arranjadores e que deram sua roupagem, seu conhecimento. Este Re: é uma homenagem à trilogia que elevou o instrumento nos anos 70, realizada por um dos maiores e mais importantes  violonistas da música popular brasileira de todos os tempos, o cantor, intérprete e compositor Gilberto Gil. Essa trilogia de Gil – Refazenda, Refavela e Realce – inspirou Manu a vida inteira (desde a sua formação como músico), dando aqui uma resposta ou “Re:” Esse era um campo de assunto de email, que agora tem muitos substitutos nas comunicações, mas surgiu como tecnologia inovadora, depois de Manu estabelecer seu processo criativo fora dos hábitos atuais, usando memorização, ouvido, papel e caneta. Nesse sentido, o título é irônico, pois a arte não cabe no computador e sim na vida das pessoas. O artista sempre teve a própria linguagem de tocar violão e cantar ao mesmo tempo, e compor. Esta é uma escola, que atualmente não é seguida com tal criatividade, determinação e exaustão por nenhum cancionista de sua geração depois dos pilares formadores da obra do artista: João Gilberto, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Jorge Ben Jor, Paulinho Da Viola e de seu mestre Luiz Tatit. Manu, que geralmente compõe música e letras, tem seus parceiros aqui representados por Danilo Caymmi, em Conversa de Japi, Murundum e Poesia E Prosa. Manu compôs e/ou trabalhou com expoentes do violão e da guitarra nacionais e internacionais: Dori Caymmi, Toninho Horta, Luiz Brasil, Swami Junior, John Pizzarelli, Jack Wilkins, Bucky Pizzarelli, Howard Alden. Entre as novidades, está um excerto de poema do cearense José Albano, pouco lembrado desde o seu falecimento no início do século XX, originalmente Ode À Língua Portuguesa, aqui rebatizado como Afeto Santo, além do samba inédito Algodão, no estilo de João Gilberto e Chico Buarque. E ainda uma homenagem, a regravação de Poesia E Prosa, que Manu e Danilo Caymmi fizeram com Antonio Candido de Mello E Souza. Homenagem a Minas Gerais e ao crítico literário, padrinho de Manu. Cada canção (e cada gravação) tem um rimo diferente, entre os brasileiros, com vários tipos de baião e samba, ritmos ternários (incluindo a “valsa ao contrário”, com tempo forte diferente do padrão, Sem Querer).

Faixas
1. Algodão (Manu Lafer)

Céu de tarde
Azul de brisa
Isento de cinza
Climas de colinas
Vela de macia luz

Verde vento
Já se fez escuro
Desce o pasto de frio
Pôr do sol no chão
De algodão veludo

2. Depressa, Amor (Manu Lafer)

Depressa, amor,
Que o mundo
Cansa de esperar

Depressa, amor,
Veja a vida,
Não como ela está,
Depressa,
Que é você quem vai chegar
Depressa,
Que sei quem você será

Depressa, amor,
Tudo azul
Ou tudo rosa, já
Depressa, amor,
Preto e branco
Só se for filmar

Depressa,
Que é tempo de passar,
O tempo desse mundo
Quem sonhar

3. Céu (Manu Lafer)

Céu
Que se aumenta e se imita
Céu que límpido brinca
Quando a dor
Adormecer
Céu,
Pincel do céu
Se alastra,
Céu
Que o infinito
Arrasta
Céu,
Além

4. Conversa De Japi (Manu Lafer, Danilo Caymmi)

Eu quero ver de um em um
Lugar onde parente foi morar
Em tronco, em copa alta, em buriti,
O fim da minha vida é ver japi

Eu vou parar para escutar o seu tupi,
Ouvir conversa mole de japi
Que nenhum japi monopoliza
Cantando sempre o mesmo som,
Que um outro interrompe ao plagiar

Coral igual, canoro e natural
Varia, a cada aldeia do meu rio

Arremeda ventre do japi
Amarelo e negro pra cobrir
Ali, ali, pena do japi (bis)

5. Sem Querer (Manu Lafer)

Sonhei com você sem querer
O sonho é que foi sem querer
De tanto que eu quero esse sonho
Te sonho num sonho que foi sem querer
(bis)

Sonhei que é pra você saber
Que eu quero sonhar com você
Teus negros cabelos, teus lábios vermelhos,
O sonho de todo querer (bis)

6. Baião Da Flor (Manu Lafer)

Sei que uma flor que se tem
Faz-se um jardim dessa flor
E esse jardim de uma flor
Vai pra cidade, seu eu for
Fugir do lado da lei
Fingir de rei do baião
Se perguntarem, eu vi
A pedra fundamental
Quando essa pedra de toque
Tocou, e tocou, e tocou, e tocou, e tocou

Gonzaga, gênio da roça
O que será desse som?
É cume e gume da flora
É cima e lima da flor
De Cubalão a Baioque
Oba lá lá, Alalaô
Si Manda, mora Patropi
Em violão ou pop
Intimidade coloque
Em amor, em amor, em amor, em amor, em amor

Mas tudo ocorre ao acaso
E assim Bahia é Brasil
Acaso ali Juazeiro
Onde é Bahia, é Brasil
Onde o artista estiver
O povo tem que ir atrás
Eu pra profeta não dou,
Na minha terra não sou
No meu lugar é que o bode
Sangrou, e sangrou, e sangrou, e sangrou, e sangrou

Existiria a verdade
Verdade que ninguém vê
Se Todos Fossem No Mundo,
No Mundo Iguais À Você
De corações, sul e morte
Até Chuí de Oiapoque
Adentro “status quo”,
Afora “sine qua non”,
Me chame agora que eu digo:
Eu já vou, eu já vou, eu já vou, eu já vou, eu já vou

Homem do mundo e do quarto
Que o Rei Roberto imitou
Dora cafuza, Caymmi
AM, maracatu
Ouvimos num repeteco:
Eu não sou santo, favor
Rock, iê-iê, o que for
Onde Ieiê Okê for
Basta O Quereres a mim
Como eu sou, como eu sou, como eu sou, como eu sou, como eu sou

É Sina e Minas da flor
Não mudo de opinião
De quatro flores, o trevo
Odara, Nara Leão
E Quem Te Viu Não Te Vê
Mulata, Índia Inaiê
Camélia, Rosa e Amélia
Olhos nos Olhos, Orfeu
E Tudo Se Transformou…
Não fui eu, não fui eu, não fui eu, não fui eu, não fui eu

Eu vou mostrar pra vocês
Como se dança o baião
Basta solar Nazareth
Basta o Luar Do Sertão
Jiló com j ou com g
É suma e sumo da flor
E outro do Nascimento
Em Cio Da Terra vingou
E foi brilhando, brilhando…
E brilhou, e brilhou, e brilhou, e brilhou, e brilhou

Tão linda assim, nem a flor
Existe nem mesmo amor
É Sabiá, Carcará,
E Foi Um Rio Que Passou
Cabocla, demônio mau
Tô triste como urutau
Eu vi formar Beberibe
O mar com Capibaribe
E Vai Passar, Vai Passar…
Já Passou, Já Passou, Já Passou, Já Passou, Já Passou

7. A Lente Do Homem (Manu Lafer)

Eu leio o céu de baixo
Até sem telescópio
É que o céu sou eu
Porque o céu é um ser

Eu leio a mão de cima
Até sem microscópio
É que a mão é Deus
Porque a mão é um ser

E se A Lente Do Homem
Vê Deus, onde A Lente
De Deus vê o Homem
Saber é A Imagem Da Fé
Que do Outro Se Crê

E se do núcleo da célula
A íris espelha o destino
O dilema: ou a Morte,
Ou o Bom e o Belo e o Dom

Eu leio o céu de baixo
Até sem telescópio
É que o céu sou eu
Porque o céu é um ser

Eu leio a mão de cima
Até sem microscópio
É que a mão é Deus
Porque a mão é um ser

E se o amor é a fé
Que do prisma do afeto
É o fim que é o feto onde o ventre é o teto
Que o tato tocou

E porque há sinfonia
Há também harmonia,
Há também melodia
E o dia e o ia e o A que criou

8. Poesia E Prosa (Danilo Caymmi, Manu Lafer, Antônio Candido De Mello E Souza)

Santa Bárbara do Garimpo das Canoas
Nossa Senhora das Dores do Aterrado
Santa Rita de Cássia (bis)
Vila Formosa do Senhor Bom Jesus dos Passos

Nossa Senhora das Dores da Ponte Alta
São Francisco das Chagas do Monte Santo
Santa Cruz das Areias (bis)
Divino Espírito Santo da Forquilha

O pano sobe desvendando Claraval, Ibiraci,
Cássia, Passos, Babilônia, Monte Santo

O pano sobe desvendando Claraval, Ibiraci,
Cássia, Passos, Fortaleza, Delfinópolis

9. Murundum (Manu Lafer, Danilo Caymmi)

No cerrado incalculado
No grotão desembestado
Desertado, desbastado,
Vi cobiça, apavorado,
Vi sevícia, ensimesmado

Fui chorar, longe, no mato,
Sem feitiço eu morro grato
Sem miséria, sem contato,
Sem façanha, artefato,
No sertão desamparado

Murundum, murundum (4x)

Marrombo vai rezar,
Salvar o Juruá,
Iara, Caraíba,
Mata a mata pra acabar
Paié vai se juntar,
Pegar o mamaé,
Kubé, se pega queima,
Mata a mata pra acabar
(bis)

Murundum, murundum (4x)

10. A Cara Rajada Da Jararaca (Manu Lafer)

Ralé verá a revelar
Seiva, viés,
O revés severo
E tremo: caias lá, verbo
Obre valsa, ia comer-te
A cara rajada da jararaca (bis)

Se pés soam mãos,
Ela brada a dar balé
“Se damo-nos só nômades
Álibi sibila”
Só me bebe e bebemos,
Só me vê e vemos
E lia Brasil a s.o.s., alisar baile
Lá é real,
Assim busca, A.C., submissa,
“Aja na naja” (bis)

Aí és sido odisséia,
Ó galáxia, baixa lago
Alegrar gela,
Ar gera a regra:
Ar usual, clausura
“O relo bem, me bolero”
A danada é madame (bis)

Amada data,
Cera é ter ré da vela:
Leva, derrete a recatada dama
Agir abraço, coçar barriga
“sê mais siamês,
Saís sem messias”
Sopro, C.I.A., aí corpos
Ar, boca, cobra
Ego? Falácias:
Sai, cala, foge
“Es só?”,
Telefone neva veneno, fel e tosse
O cigarro breve
É verborrágico
“Saúde, amai ó jiboia má,
Amai ó bi-jóia, má, e duas”,
A citar comédia:
“Ai”, democrática,
“É traído odiar-te” (bis)

11. Afeto Santo (Manu Lafer, Trecho de Ode À Língua Portuguesa, de José Albano)

Língua minha, se agora a voz levanto
Pedindo à musa que me inspire e ajude, ·
Somente soe em teu louvor o canto,
Inda que a lira seja fraca e rude;
E tudo quanto sinto na alma e digo,
Já que na alma não cabe,
Contigo viva e acabe – só contigo.

Língua minha dulcíssona e canora,
Em que mel com aroma se mistura,
Agora leda, lastimosa agora,
Mas não isenta nunca de brandura;
Língua em que o afeto santo influi e ensina
E derrama e prepara
A música mais rara – e mais divina.

Quanta e quamanha dor me surge e nasce
De nunca ouvir aquele antigo estilo,
Mas eu fiz que ele aqui se renovasse,
Para que o mundo enfim pudesse ouvi-lo.
E com todo o poder de engenho e d’arte
Foi sempre o meu desejo ver-te
Qual ora te vejo – e celebrar-te.

E não quero um som alto e retumbante
Para cantar d’amor ao mundo atento,
Pois não há língua que d’amor não cante,
Mas, nenhuma traduz o meu tormento;
Nenhuma se conhece que traslade,
Afora tu somente,
Do coração doente, a saudade

12. Festiva (Manu Lafer)

A tua voz de vida me dizima
E a crise vai me conduzir
Pisar, disparatar, pra tua voz festiva
Se destinar a mim na volta por cima
Ensina os teus sapatos, principia,
Na espera que não procrastina
Me estima, vai insistir na minha paixão,
A minha Capelinha Cistina
Ainda mais mandona e Brasília
Sereia, prima dona e minha dona

Será que eu serei dessa peixona?
Como? Quando?
Quando essa peixona se apaixona
(bis)

O pato… O pato… O pato…
O pato… O pato… O pato…

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