Manu Lafer faz registro ao vivo de Doze Fotogramas, no Estúdio Space Blues, (Alexandre Fontanetti), O cd foi lançado em 2001.
O repertório é o exatamente mesmo, incluindo o inovador samba , regravado em Sambadobrado com clipe am animação, Cidade Inacabada , e A Lente Do Homem, marca de sua carreira, gravado por Ná Ozzetti, Mateus Aleluia e Monica Salmaso.
A direção musical com direito ao violão de 7 cordas é de Swami Jr, que se manteve fiel à gênese das canções ao violão. Completam a banda: Daniel Oliva (guitarra), Sylvinho Mazzuca Júnior (baixos elétrico e acústico), Kezia Pessoa (clarinete) e Sergio Reze (bateria). Participação especial do companheiro de geração, o exímio cantor Marcelo Pretto (Barbatuques).
Toda memória tem seu preço
Como os encontros têm começo
Ogivas e rabiscos,
Recintos, corredores, labirintos
Do primeiro olhar
(Do sonho de olhar)
Toda memória tem urgência
Como os amores, diferenças
Traçados e desvios,
Os pátios, dissidências, desvarios
Do primeiro olhar
(Do sonho de olhar)
Toda memória é incumbência
Como os sorrisos são ausência
Passeios imprecisos,
Gerânios de gerúndios impassivos
Do primeiro olhar
(Do sonho de olhar)
Toda memória tem seu erro
Como as paredes devaneio
Desterros, extravios,
Ou flores nos cimentos abrasivos
Do primeiro olhar
(Do sonho de olhar)
Eu leio o céu de baixo
Até sem telescópio
É que o céu sou eu
Porque o céu é um ser
Eu leio a mão de cima
Até sem microscópio
É que a mão é Deus
Porque a mão é um ser
E se a lente do homem vê Deus
Onde a lente de Deus vê o homem
Saber é a imagem da fé
Que do outro se crê
E se do núcleo da célula
A íris espelha o destino
O dilema: ou a morte,
Ou o bom e o belo e o dom
Eu leio o céu de baixo
Até sem telescópio
É que o céu sou eu
Porque o céu é um ser
Eu leio a mão de cima
Até sem microscópio
É que a mão é Deus
Porque a mão é um ser
E se o amor é a fé,
Que do prisma do afeto
É o fim que é o feto
Onde o ventre é o teto que o tato tocou
E porque há sinfonia
Há também harmonia,
Há também melodia
E o dia e o ia e o A que criou
Ô, minha santa
Leva a fumaça
Que levanta a caravana
Ô, meu benzinho
Serve o carinho
Que atravessa na garganta
Ô, meu apego
Vai como um ponto
Na distância que desponta
Ô, baião de dois
Ô, revelação
Lé com lé
Cré com cré
De mamando e caducando
De pegado a cafundó
Todo mundo vive só
(Todo mundo vive só)
Com que faca te feriste?
Com que amor te acostumaste?
De que impura fomitura
Tu provaste e aprovaste?
Com que vento interrompeste
Meu querer que provocaste?
Com que vinho te gabaste,
Com que fúria arrepiaste,
Na carreira dos destinos
Que certeira me rasgaste?
Com que espuma, com que bruma?
Com que feno, com que sono?
Com que filme, com que arte?
Ô, minha prenda
Leva a mentira
Põe e tira a minha venda
Ô, minha preta
Por sentimento
É que me finjo de poeta
Ô, menina
Em tua rima
É que eu me ensino da narina
Ô, baião de dois
Ô, rebentação
Lé com lé
Cré com cré
De mais zelo a desmazelo
Da mirada ao atropelo
Todo mundo vive só
(Todo mundo vive só)
Meu sorriso tu me deste
(Lume que tu me alegraste)
Que furtiva comitiva
Dispuseste, acompanhaste,
No alvoroço em que irrompeste
Qual caroço e tempestade?
Com que fel, qual azedume?
Que amargor, qual aziúme?
Na poeira dos destinos
Te abracei e me abraçaste
Com que espuma, com que bruma?
Com que feno, com que sono?
Com que filme, com que arte?
Beijo do desejo
Vejo mesmo preso
Minha voz te libertar
Vou falar
Ouço o chão que voa
Para tua pessoa
Que eu não morra
Ao te encarar
Vou falar…
Todo mundo quer sem ter
Quer sentindo se perder
Da palavra
Qual palavra…
Quer dizer aquilo que
Nos trouxer meu coração de ti?
Ah, por que tudo é eterno?
Ermo do inverno é florir
Onde paramos e termos
Términos do prosseguir?
Ah, por você não passarmos
Das horas puras por vir
Outra do um, não para vermos
Vício dos ciclos surgir
Ah, eras tudo o que eu quero
Eros e amores em si
Onde um à outra nos demos?
Onde do meio é que eu vim?
Ah, para não continuarmos
Só começarmos a rir
Sílabas, beijos e jogos
Nossos desejos no sim
Ah, eu veria essa moça
Escassa, vir
Para que prostrada mostrasse e estrada
Aproximada do sem fim
A gente podia…
Sei lá…
Se conhecer melhor
A gente podia…
Sei lá…
Dar uma volta, pegar um ar
Porque eu já tou
Confundindo as coisas
Porque eu já tou cheio
De segundas intenções
Tamos aí
Vamos curtir esse momento
Ver avião decolar (bis)
A gente podia…
Sei lá…
Tem fogo aí?
Que horas são?
A gente podia…
Sei lá…
A noite é uma criança
Você brilha mais do que o luar
Você gosta de praia?
Eu te levo ver o mar
Você gosta de festa?
Eu te levo para dançar
Não gosta de nada?
Eu te levo para o aeroporto
Ver avião decolar (bis)
Porque mesmo não tendo
Sido feitos um para o outro
(bis)
Homem e mulher
Sempre tem a ver
Sempre tem um momento
De carinho para se entender (bis)
Eu queria comprar
Um presente bem caro
Para dar para você
Um anel de diamantes brilhantes
Para dar para você
Mas longe de você
Eu só consigo encontrar
Bijuteria barata
(E você vai pendurando sem graça)
Eu queria comprar
Uma roupa colorida
Para pôr em você
Um vestidinho bem curto e bem justo
Para pôr em você
Mas quando eu chego nas lojas
Eu gasto tudo nos tubos
E só te trago farrapo
(E você vai desfilando sem graça)
Quanto mais nos chegamos
Mais nos deixamos tímidos
É tanto tempo junto
E eu tenho medo de perder você
E o que é que eu posso dar
Para uma pessoa que diz
“Olha, como a Lua tá bonita”?
As nossas mãos nos tocando
(E nós de mãos abanando)
E no fim das contas (e no fim das contas)
E no fim das contas (e no fim das compras)
Eu quero me casar com você (bis)
Mais do que a tua falta
Senti tua presença
Não exagero o que é te ver
Quando há amor
Então não há porquê
Mais do que amor eu sinto
Que com você existe
O sentimento de saber
Continuar
O que sou de você
Se eu por você insisto
Que eu em você consinto
Na liberdade de escolher
Nos dar amor
Se amor couber nos ter
Primeiro eu te aperto
Bate a foto três por quatro
É perto como um quarto
No contato do cinema
Na briga da novela
Eu reviro a tua bolsa,
Passando-te o batom
Eu borro o álbum de retrato
Eu borro o álbum de retrato
Você parece louca
E eu não espalho só na boca
São três e te derramas
Foram doze fotogramas
Sabrina, sabia, Sabrina?
Morena, menina,
Você recusou
O doce de coco batido
Que eu pus com biscoito,
E servi com bombom
Sabrina não quer canjibrina
Despreza o suspiro
Que leva o licor
Sabrina não bebe bebida,
Não come comida,
Começa, acabou
Sabrina não quer caloria,
Saliva escondida,
Borrando o batom
Sabrina, você que se pinte,
Você que se lixe,
Que aprenda o que é bom
Sabrina mulher de quinhentos talheres
Dos ossos e ofícios do amor
Sabrina sumida,
Sabrina sofrida,
Sabrina se acaba,
Você já é magra,
Me paga se diminuir
Minha mulher
Sabrina, sabia, Sabrina?
Morena, menina,
Você desdenhou
O caldo da profiterole,
E o meu rocambole
Já se mocozou
Sabrina jantou, se acabrunha,
Com fome de unha,
Seu prato dá dó!
Sabrina abusou da rotina,
Dieta de tina,
Legumes em pó
Sabrina já está definida,
Sarada e curtida,
Queimada de sol,
Sabrina só anda na linha,
Só quer coisa fina,
Que vá deitar só
Sabrina mulher de quinhentos talheres
Dos ossos e ofícios do amor
Sabrina sumida,
Sabrina sofrida,
Sabrina se acaba,
Você já é magra,
Me paga se diminuir
Minha mulher
Eu mostrava e você já sabia
Eu brincando e você já sorria
Eu querendo, você “maravilha”
Eu deitava e a gente não dormia
Mas um dia eu me senti distante
E eu vi que o mundo mudaria
Que você também já era outra
E nem tudo teu me pertencia
Olhe, Estrela Guia,
Eu pensei que você fosse minha
Mas se um dia você me abandona
Eu não te esqueço nunca
Eu vou morrer na vida
(bis)
Sofrer
É da tua envergadura
Loucura
É você quem me procura
Me deixa gostar de você
Me deixa atrever ter você
Apesar da miséria da
Inacabada cidade que não se fará
Minha diva há de vir dadivosa dançar
Minha musa, de mim amorosa,
Rapsódia, sem moda,
Alcançou teu cantar
Expulsei o teu desprezo à minha rosa
Te ver já não é suplício de amor
Aturei os teus costumes de teimosa
Te ver já me dá a força, que eu sei,
Você goza por crer
Que eu devoto em vão,
Um abraço na multidão
(Solidão se mistura)
Agrura,
És cativa e és clausura
Costura,
A razão que em mim te jura
Quando o piso encher
Quando o asfalto arder
Deixa ter tua promessa apaixonada
Sorri para me dar sentença de amor
Deixa ter o teu ciúme que te evoca
Te despe do som
Que à noite, na luz, se aloca
E desloca a visão
Sorve teu sal, salga-te a mão
Te amarra à minha ilusão
Destoa,
Carne à carne, morna e crua
Garoa,
Desmorona a criatura
Me deixa morar em você
Me deixa ver
A nação danação
Emoção sobrevoa a favela
É a rosa, é a rocha!
(É a rosa, é a rocha!)
Teu barranco é pro céu que te arrasta
Ao rasgar teu arranha-chão
Dá cidade, dá salvação
Alvenaria do Rio Tietê
Faz Cingapura, CDHU
Beco e tijolo, que empurra e detém
Sem rua, sem teto, sem ter
Rogério, Barboza, João e José
Guilherme, Ricardo, Enrico e Lelê
Amor vale sangue, anima origami
Porque bumerangue ele é
Ponte Remédios, concreto pendor
Deu rebuliço, banzé, deu xabú
Pata e não crina do olhar mercador
Esmola no acelerador
Lucila, Fernanda, Claudinha, Erecê
Dadá, Luciana, Renata e Alê
Quem for de domingo, que vá de cavalo,
Quem for de menor, vá de a pé
Sigo essa linha pro risco correr
Luz da fundanga do Anhangabaú
Fio do pavio do refúgio do ser
O osso do povo é nascer
Nico, Tiago, Marcello e Inês
Erika, Lidia, Ulysses e Cris
Você que me ouça, você que se dane
A lua é que é de maré
Meia palavra, mau empreendedor
“Não” só afirma avestruz no tatu
Túnel, guindaste, sobrado e metrô,
São Paulo para vereador
Alice, Naiara, Ju, Clara e Bru
Pedrinho, Sophia, Mila e Moacyr
É tudo na vida saber encontrá-lo
Atalho, mistério de fé (2x)