Manu Lafer

Músico e Compositor

Tudo De Novo – Emanuel É Manuel

Manu Lafer, artista com mais de 20 anos de carreira e mais de 20 lançamentos, aborda a obra do cantor e compositor Caetano Veloso através do swing, estilo particular do jazz de tocar standards americanos, neste lançamento chamado Tudo De Novo.

Tudo De Novo, a música cujo título sintetiza esta proposta, foi apresentada num registro ao vivo de Caetano com Maria Bethânia. Reforça o citando o “eterno retorno” do filósofo Nietzsche, contrapondo-se a releituras, covers ou repetições.

O próprio homenageado, Caetano Veloso, participa de uma das faixas, Na Asa Do Vento (Luiz Vieira e João Do Vale).

Estão presentes para executar esta proposta artistas americanos expoentes do jazz, com quem Manu Lafer tem colaborado constantemente: o clarinetista Ken Peplowski, (que acompanhou Benny Goodman), e o guitarrista de sete cordas americano John Pizzarelli  (que por sua vez solista que acompanhou Frank Sinatra, Paul McCartney e James Taylor). John é especialmente fã dos discos Amoroso de João Gilberto e A Foreign Sound, de Caetano Veloso.

Ken está presente em duas faixas, Onde Andarás e Trem Das Cores. John está presente em outras oito, sendo que numa delas, Marcianita, também faz seus característicos scat vocals.

Há participações da cantora Bruna Caram e do cantor e guitarrista Mark Lambert.

A participação destes artistas foi heroica e generosa, tendo ocorrido à distância e em meio à pandemia.

A pandemia motivou Manu Lafer a realizar três tributos ambiciosamente, sendo este o terceiro. Os anteriores: ao sambista paulista Germano Mathias e ao compositor novaiorquino Brian Gari, neto do compositor Eddie Cantor.

Além dos laureados, os citados Caetano Veloso e John Pizzarelli, o álbum reúne os acumuladores de prêmios Grammy Swami Jr. (produção musical, arranjos, violão de sete cordas) e Alexandre Fontanetti (engenheiro de gravação, guitarra).

Em uma ficha técnica tão expressiva, ainda estão Neymar Dias (viola) e Tiago Costa, maestro e regente da Orquestra Jazz Sinfônica (piano e o órgão Hammond) em quase todas as faixas, num estilo pessoal, ou, como diria Gilberto Gil, “brasileirinho pelo sotaque/mas de língua internacional”.

No repertório, canções marcadas na memória musical profissional e afetiva de Manu, que conheceu Caetano quando este visitou a sua pré-escola. As novas gerações têm menos familiaridade com canções como Sim, Foi Você (inspirada na versão ternária de Gilberto Gil, apresentada em show e não registrada em gravação), Ela E Eu, Mãe, Nosso Estranho Amor e mesmo canções que Caetano não compôs, mas tornou-se, por assim dizer, “dono”, como Largo Da Lapa (dos bambas cariocas Wilson Batista e Marino Silva) e Marcianita, uma canção que fez sucesso na Jovem Guarda e cujo sucesso internacional inspirou uma versão em espanhol incluída aqui, ou “defendida”, como se dizia na época dos Festivais, pela cantora cubana exilada Celia Cruz.

O projeto gráfico é de Diana Mindlin e a ilustração da capa é de Elifas Andreato. Como um objeto não identificado, para lançar depois do Carnaval.

Faixas
1. Na Asa Do Vento (João do Vale, Luiz Vieira)
Deu meia noite, a lua faz o claro
Eu assubo nos aro, vou brincar no vento leste
Aranha tece puxando o fio da teia
A ciência da abeia, da aranha e a minha
Muita gente desconhece
Muita gente desconhece, oilará, viu?
(Muita gente desconhece)
Muita gente desconhece, oilará, tá?
(Muita gente desconhece)

A lua é clara, o sol tem rastro vermelho
É o mar um grande espelho onde os dois vão se mirar
Rosa amarela quando murcha perde o cheiro
O amor é bandoleiro, pode inté custar dinheiro
É fulô que não tem cheiro e todo mundo quer cheirar
Todo mundo quer cheirar, oilará, viu?
(Todo mundo quer cheirar)
Todo mundo quer cheirar, oilará, tá?
(Todo mundo quer cheirar)

2. Mãe (Caetano Veloso)
Palavras, calas, nada fiz
Estou tão infeliz
Falasses, desses, visses, não
Imensa solidão

Eu sou um rei que não tem fim
E brilhas dentro aqui
Guitarras, salas, vento, chão
Que dor no coração

Cidades, mares, povo, rio
Ninguém me tem amor
Cigarras, camas, colos, ninhos
Um pouco de calor

Eu sou um homem tão sozinho
Mas brilhas no que sou
E o meu caminho e o teu caminho
É um nem vais nem vou

Sou triste, quase um bicho triste
E brilhas mesmo assim
Eu canto, grito, corro, rio
E nunca chego a ti

Meninos, ondas, becos, mãe
E só porque não estás
És para mim que nada mais
Na boca das manhãs

3. Marcianita (JL Marcone, GV Alderete, Fernando Cesar)
Ignorada, marcianita
Asseguran los hombres de business
Que en diez años más, tu y yo
Estaremos tan cerquita
Que podremos pasear por el cielo
Y hablarnos de amor

Yo que tanto
Te he soñado
Voy a ser lo primer pasajero
Que viaje hasta donde estás
En la tierra no he logrado
Que lo ya conquistado
Se quede conmigo y no mas

Quiero una chica de marte
Que sea sincera
Que no me salga ni fume
Ni sepa siquiera lo que és
Cha cha cha

Marcianita, blanca o negra
Espigada, pequena
Delgada, gordita
Serás mi amor
La distancia nos acerca
Y en el año setenta
Felices seremos los dos

4. Onde Andarás? (Caetano Veloso, Ferreira Gullar)
Onde andarás nesta tarde vazia
Tão clara e sem fim
Enquanto o mar bate azul em Ipanema
Em que bar, em que cinema, te esqueces de mim?

Enquanto o mar bate azul em Ipanema
Em que bar, em que cinema, te esqueces…

Eu sei, meu endereço, apagaste do teu coração
A cigarra do apartamento
O chão de cimento, existem em vão

Não serve pra nada a escada, o elevador
Já não serve pra nada a janela
A cortina amarela
Perdi meu amor

E é por isso que eu saio pra rua
Sem saber pra quê
Na esperança talvez, de que o acaso
Por mero descaso, me leve a você

Na esperança talvez de que o acaso
Por mero descaso
Me leve eu sei

5. O Ciúme (Caetano Veloso)
Dorme o sol à flor do Chico, meio-dia
Tudo esbarra embriagado de seu lume
Dorme ponte, Pernambuco, Rio, Bahia
Só vigia um ponto negro, o meu ciúme

O ciúme lançou sua flecha preta
E se viu ferido justo na garganta
Quem nem alegre, nem triste, nem poeta
Entre Petrolina e Juazeiro canta

Velho Chico vens de Minas
De onde o oculto do mistério se escondeu
Sei que o levas todo em ti, não me ensinas
E eu sou só eu, só eu, só, eu

Juazeiro, nem te lembras dessa tarde
Petrolina, nem chegaste a perceber
Mas na voz que canta tudo ainda arde
Tudo é perda, tudo quer gritar, cadê?

Tanta gente canta, tanta gente cala
Tantas almas esticadas no curtume
Sobre toda estrada, sobre toda sala
Paira monstruosa a sombra do ciúme

6. Tudo De Novo (Caetano Veloso)
Minha mãe, meu pai, meu povo
Eis aqui tudo de novo
A mesma grande saudade
A mesma grande vontade
Minha mãe, meu pai, meu povo

Minha mãe me deu ao mundo
De maneira singular
Me dizendo uma sentença:
Pra eu sempre pedir licença
Mas nunca deixar de entrar

Meu pai me mandou pra vida
Num momento de amor
E o bem daquele segundo
Grande como a dor do mundo
Me acompanha onde eu vou

Meu povo, sofremos tanto
Mas sabemos o que é bom
Vamos fazer uma festa
Noites assim, como esta,
Podem nos levar pra o tom

E aquela num tom de azul
Quase inexistente, azul que não há
Azul que é pura memória de algum lugar

Teu cabelo preto, explícito objeto, castanhos lábios
Ou pra ser exato, lábios cor de açaí
E aqui, trem das cores, sábios projetos: tocar na Central
E o céu de um azul, celeste celestial

7. Ela E Eu (Caetano Veloso)
Há flores de cores concentradas
Ondas queimam rochas com seu sal
Vibrações do sol no pó da estrada
Muita coisa, quase nada, cataclismas, Carnaval

Há muitos planetas habitados
E o vazio da imensidão do céu
Bem e mal, e boca e mel
E essa voz que Deus me deu
Mas nada é igual a ela e eu

Lágrimas encharcam minha cara
Vivo a força rara dessa dor
Clara como o sol que tudo anima
Como a própria perfeição da rima para amor

Outro homem poderá banhar-se
Na luz que com essa mulher cresceu
Muito momento que nasce
Muito tempo que morreu
Mas nada é igual a ela e eu

8. Os Argonautas (Caetano Veloso)
O barco, meu coração não aguenta,
Tanta tormenta, alegria,
Meu coração não contenta
O dia, o marco, meu coração
O porto, não

Navegar é preciso
Viver não é preciso

O barco, noite no teu tão bonito,
Sorriso solto, perdido,
Horizonte, madrugada
O riso, o arco da madrugada
O porto, nada

Navegar é preciso
Viver não é preciso

O barco, o automóvel brilhante,
O trilho solto, o barulho,
Do meu dente em tua veia
O sangue, o charco, barulho lento
O porto, silêncio

Navegar é preciso
Viver não é preciso

9. Nosso Estranho Amor (Caetano Veloso)
Não quero sugar todo seu leite
Nem quero você enfeite do meu ser
Apenas te peço que respeite
O meu louco querer

Não importa com quem você se deite
Que você se deleite seja com quem for
Apenas te peço que aceite
O meu estranho amor

Ah, mainha,
Deixa o ciúme chegar
Deixa o ciúme passar
E sigamos juntos

Ah, neguinha,
Deixa eu gostar de você
Prá lá do meu coração
Não me diga nunca, não

Teu corpo combina com meu jeito
Nós dois fomos feitos muito pra nos dois
Não valem dramáticos efeitos
Mas o que está depois

Não vamos fuçar nossos defeitos
Cravar sobre o peito as unhas do rancor
Lutemos, mas só pelo direito,
Ao nosso estranho amor

10. Trem Das Cores (Caetano Veloso)
A franja da encosta, cor de laranja, capim rosa chá
O mel desses olhos luz, mel de cor ímpar
O ouro ainda não bem verde da serra, a prata do trem
A lua e a estrela, anel de turquesa

Os átomos todos dançam, madruga, reluz neblina
Crianças cor de romã entram no vagão
O oliva da nuvem, chumbo ficando pra trás da manhã
E a seda azul do papel que envolve a maçã

As casas tão verde e rosa
Que vão passando ao nos ver passar
Os dois lados da janela

11. Não Identificado (Caetano Veloso)
Eu vou fazer uma canção pra ela
Uma canção singela, brasileira
Para lançar depois do Carnaval

Eu vou fazer um iê-iê-iê romântico
Um anti-computador sentimental

Eu vou fazer uma canção de amor
Para gravar num disco voador
(2x)

Uma canção dizendo tudo a ela
Que ainda estou sozinho, apaixonado
Para lançar no espaço sideral

Minha paixão há de brilhar na noite
No céu de uma cidade do interior

Como um objeto não identificado (2x)
Que ainda estou sozinho apaixonado
Como um objeto não identificado
Para gravar num disco voador
Eu vou fazer uma canção de amor
Como um objeto não identificado

3. Sim, Foi Cocê (Caetano Veloso)
Sim, foi você quem não quis voltar
Toda noite a saudade vai de verdade
Agora lhe procurar

Como a mim que a tristeza tem
Para sempre perdido além do sorriso
Já sem poder chorar

Ah, nosso amor foi bom
Foi de não se esquecer
Era pra sempre, foi tão bonito
Era de se esperar renascer

Mas foi você quem não quis voltar
Toda noite a saudade vai de verdade
Agora lhe procurar

13. Illusions (Gravidade) (Caetano Veloso, versão em inglês Mark Lambert)
Icy, icy, icy, icy
Indoor igloo
Shiny white nothing to see

Ivy, ivy, ivy, ivy
Pricey building
People with nothing to sell me

Psyche, psyche, psyche, psyche
Aphrodite
Pleasure embedded in ice

I see, I see, I see, I see
Lights of illusions in darkness
Happiness drowning in sorrow
Bright transformations to borrow
Misleading signals to follow
Welcome betrayals to hollow
Icy misgivings to swallow

Inlay, inlay, inlay, inlay
Infinite rivers that sit in the desert

Icy, ivy, I see, psyche
Something of nothing to be (4x)

14. Largo Da Lapa (Wilson Batista, Marino Pinto)
Foi na Lapa que eu nasci
Foi na Lapa que eu aprendi a ler
Foi na Lapa que eu cresci
E na Lapa eu quero morrer
(2x)

A Lapa também tem a sua igreja
Pra que toda gente veja onde eu fui batizado
A Lapa, onde já não há conflito,
Fica no 5º Distrito, aonde eu fui criado,

Um samba, um sorriso de mulher,
Bate-papo de café, eis aí a Lapa
(2x)

Onde encontrar

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